«Hão de olhar para Aquele que trespassaram»

(Jo 19, 37)

A todos a Si atrai o olhar do Crucificado. E todos n’Ele se reunirão. Atravessa o limiar do Inefável Mistério quem é visto e vê a doce face do Crucificado. O olhar primeiro e contagiante d’Aquele que foi trespassado a todos impele a olhar. O Divino vê quem o olhar de Jesus encontra. Na vida nova de Cristo entra quem pelo Crucificado é visto e Sua Cruz de amor carrega. Ensinar a ver é comunicar a fé.
É única intenção do autor destas singelas linhas dos 9 Passos de Amor narrar a sua experiência de pelo Divino ser visto e de ensinar a olhar o Inefável. É, por isso, a figuração «rosto» na sua amplitude polissémica a chave hermenêutica destes passos de amor de Cristo até à Cruz. Os estudos de Levinas e o verbo de Sophia, a quem sempre voltamos, iluminam o nosso caminho. Na sua caminhada para a Cruz, os olhos do Divino Mestre vão interpelando várias personagens exigindo seguimento e despojamento de si. Uns deixam-se interpelar e passam o limiar do Mistério, outros recusam e permanecem na tristeza do finito e na verdade curva. Os passos de amor de Jesus pelos tempos fora continuam, hoje são percorridos pelos humilhados e oprimidos deste mundo, que a interpelar estão a quem os seus rostos vir. Vê o divino, quem o rosto da paciência olha.
Sustentam os 9 Passos de Amor, para além das narrativas bíblicas da paixão, a leitura dos painéis da paixão do fabuloso retábulo barroco da Capela-Mor da Igreja Paroquial de Matosinhos. Ler uma obra de arte é deixar a obra falar, diz Gadamer. É o mundo da obra a dialogar com o mundo do leitor. É a aproximação de dois olhares distantes. Interpreta-se uma obra de arte dialogando com ela. A partir do meu mundo dialoguei com estas nove extraordinariamente belas obras de arte. Mas ali continuam elas para que outros também as leiam…

Padre Emanuel Brandão

SESSÃO DE APRESENTAÇÃO | 14 MAIO – 21:30 | IGREJA PAROQUIAL DE MATOSINHOS