Domingo da Palavra 2023

Anunciadores da Palavra!

«Anuncio-vos aquilo que nós vimos» (1Jo 1, 3)

A Primeira Carta que João escreve à Igreja está de tal forma impregnada do tema do amor que dificilmente se consegue desviar o olhar deste centro. O ágape é omnipresente porque o autor sagrado deve chegar a revelar o seu cume: “Deus é amor” (1Jo 4,8). Em virtude desta preeminência e prioridade do amor compreende-se porque é que o início da Carta se abre com o convite ao anúncio. Como diziam os antigos: amor est diffusivum sui; o amor, pela sua própria natureza, deve expandir-se, ser comunicado, participado, porque é a premissa necessária para a comunhão. Compreende-se, portanto, porque é que o próximo Domingo da Palavra de Deus pretende colocar-se à luz do anúncio daquilo que se viu e ouviu.
O anúncio daquilo que foi objeto de experiência direta e vivida em primeira pessoa torna-se agora participado para que se torne visível a comunhão que traz alegria. Anunciar o que se viu não é mais que dar a conhecer a pessoa de Jesus e o mistério da sua permanente presença no meio de nós. João recorre imediatamente aos sentidos, bem consciente que a fé não é uma abstração, mas um evento pessoal que muda a vida. Tudo o que foi “ouvido”, “visto”, “contemplado” e “tocado” não é outra coisa que a “vida”. Conceitos de tal forma interligados que se torna impossível qualquer divisão. Estamos diante de uma coisa só, unitária, que favorece uma visão global do mistério que, sobretudo nos nossos dias, deve ser contemplado, mais que dissecado. O caráter evangelizador que este Domingo da Palavra de Deus possui torna-se em cada ano mais tangível e a expressão joanina pretende reforçar o compromisso das comunidades de colocar no coração do Dia do Senhor a sua Palavra viva e eficaz. No domingo, os cristãos não fazem outra coisa que celebrar o mistério da salvação. A “vida eterna” que é celebrada, e por isso anunciada eficazmente, não faz outra coisa que tornar presente no meio da comunidade e no mundo a pessoa de Jesus Cristo, a Palavra eterna do Pai que procura encontrar lugar na vida pessoal de cada um. Ainda assim, anunciar Cristo Ressuscitado remete inevitavelmente para o futuro, para o seu retorno definitivo, no qual a comunhão será perfeita.
Anunciar o que foi visto e ouvido, portanto, faz com que o crente esqueça todo o cansaço, porque o compromisso da fé exige uma “corrida” a cada pessoa que, como o etíope, tem nas suas mãos a Sagrada Escritura, mas não compreende o seu significado (cf. Act 8, 26-40). O anúncio da Palavra de Deus, como notamos, requer o envolvimento direto de cada crente. Todos devem estar atentos e vigilantes para perceberem a “manifestação” desta Palavra, porque está em jogo o significado da própria vida. No caminho que o Papa Francisco pede que toda a Igreja percorra rumo ao Jubileu de 2025, o Domingo da Palavra de Deus torna-se uma etapa decisiva. O estudo e a reflexão sobre os vários temas da constituição Dei Verbum serão uma riqueza para conhecer mais profundamente a revelação da Palavra de Deus. A esperança que brota desta Palavra, de facto, provoca cada comunidade não só a proclamar a fé de sempre, mas sobretudo a comunicá-la com a convicção de que esta traz esperança a todos os que a escutam e a acolhem com um coração simples.

+ Rino Fisichella

Subsídio Litúrgico-Pastoral 2023 PT

PROBLEMAS-DOMINGO DA PALAVRA 2023 – CATEQUESE

PROBLEMAS-DOMINGO DA PALAVRA 2023