Exame de Consciência Bíblico

Deveres para comigo

  1. Deixei de pensar com critérios sobrenaturais, seguindo pensamentos que não são os de Deus, mas dos homens? (Mc 8, 33).
  2. Sou um cristão do “sal insípido”, da “luz escondida” (Mt 5,13) e do “fermento que não leveda a massa”? (Mt 13,33).
  3. Amo o meu amigo, mas odeio o inimigo? (Mt 5,43).
  4. Ouso percorrer a via estreita? (Mt 7,14).
  5. Quero ocupar os primeiros lugares e ser honrado pelos outros? (Lc 14, 8).
  6. Prefiro ser servido do que servir? (Mt 20, 28).
  7. Deixo-me levar pelos meus apetites e não sou fiel aos meus compromissos? (Lc 16, 10).
  8. Quero vencer o mal com o mal? (Rm 12,21).

Deveres para com os outros

  1. Reconheço Jesus nos famintos, vejo-o nos doentes ou na prisão? (Mt 25, 42).
  2. Dou auxílio aos feridos na berma da estrada, ou viro as costas? (Lc 10,31).
  3. Retribuo “olho per olho” e “dente per dente”, sem dar a outra face aos que me batem? (Mt 5,39).
  4. Vejo o argueiro no olho do outro, sem ver a trave que está no meu? (Mt 7,3).
  5. Magoei o meu irmão com ironia, esquecimentos, incompreensões? (Mt 5, 22).
  6. Crio divisões e não quero colaborar com aqueles que não são do meu agrado? (Mc 9, 38).
  7. Não considero os outros superiores a mim? (Fl 2,3).

Deveres para com Deus

  1. Não amo Jesus Cristo acima de todas as coisas, nem considero as coisas como lixo, até que as possua? (Fl 3,8).
  2. Deixei arrefecer o meu primeiro amor? (Ap 2,2-5).
  3. Quero seguir Deus sem tomar a minha cruz e sem negar a mim mesmo? (Lc 9, 23).
  4. Contento-me em dizer: «Senhor, Senhor»? Falo muito e faço pouco? (Mt 7,22).
  5. Poupo o meu perfume e parece-me errado derramá-lo aos pés de Jesus? (Lc 12, 5).
  6. Creio que é possível servir a Deus e ao dinheiro? (Mt 6,24).
  7. Olho para trás, depois de ter metido a mão ao arado? (Lc 9,62).
  8. Deixo apagar a minha lâmpada quando o Senhor demora a chegar? (Mt 25,11).

Palavra vivida com coragem
«Eu, de facto, não me envergonho do Evangelho» (Rm 1, 16)

São Paulo prega a partir da experiência que fez de Cristo, da graça do Espírito Santo, sabendo-se filho de Deus. Os escritos paulinos não se limitam ao ensino da vida cristã, mas mergulham na salvação da humanidade através de Jesus Cristo. Coerentemente com o ensinamento dos Apóstolos e a fé da comunidade dos crentes, São Paulo indica «que Cristo morreu pelos nossos pecados segundo as Escrituras; que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia» (1 Cor 15,3s). Viver a fé deduz-se das exigências intrínsecas da justificação concedida por Deus, do perdão dos pecados e da santificação concedida nos sacramentos, especialmente no batismo.

No ensino do Apóstolo, há um convite constante ao exercício da caridade cristã, pois não há lugar para uma vida passiva e há a convicção de que toda a capacidade de resposta pessoal vem de Deus. Adverte-se para o perigo de tentar construir sobre as próprias forças: «Quem, portanto, pensa estar de pé, que tenha cuidado para não cair» (1 Cor 10,12). São Paulo mostra a relação íntima e necessária que existe entre fé e vida: a fé exige uma forma de ser, particularmente na caridade (cf. Gal 5,6), lembrando-nos que este esforço não é coerente se não for apoiado pelo poder de Deus.

É necessária a ajuda de Deus na vida cristã e na impotência do homem perante a lei: «De facto, no meu íntimo consinto com a lei de Deus, mas nos meus membros vejo outra lei, que luta contra a lei da minha razão e me faz escravo da lei do pecado, que está nos meus membros» (Rm 7,22s). Contudo, «o que era impossível para a Lei, tornada impotente por causa da carne, Deus tornou possível: ao enviar o seu próprio Filho numa carne semelhante ao pecado e por causa do pecado, condenou o pecado na carne, para que a justiça da Lei se cumprisse em nós, que caminhamos não segundo a carne, mas segundo o Espírito» (Rm 8,3-4). O discípulo precisa de Cristo. Na obra da redenção, não é possível realizar a justiça perseguida pela lei, mas apenas através do Redentor. A lei, ainda que venha de Deus e seja, em si mesma, boa, não tem o poder de dar vida: «Se tivesse sido dada uma Lei capaz de dar a vida, a justiça viria efetivamente pela Lei” (Gl 3,21); e, também, o seu cumprimento pode levar o homem a «glorificar-se a si mesmo» (cf. Rm 2,17.23). Só em Cristo a humanidade pode vencer na luta contra o pecado e cumprir a lei.

Com a ajuda divina, dada à humanidade, torna-se possível um certo modo de vida: «Porque nós somos, de facto, a sua obra, criada em Cristo Jesus para as boas obras, que Deus de antemão preparou para nelas caminharmos» (Ef 2,10). A capacidade operativa é radicalmente diferente com a graça de Deus, a começar pelo facto de haver uma nova criação; a ação de Deus não se reduz apenas a promover ações humanas, mas alcança a raiz da realidade de cada pessoa. «Com efeito, manifestou-se a graça de Deus, portadora de salvação para todos os homens, que nos ensina a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos e a viver neste mundo com sobriedade, justiça e piedade, aguardando a bem-aventurada esperança e a manifestação da Glória do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo» (Tt 2,11s; cf. 2Cor 5,17). No batismo realiza-se a transmissão cultual da vida nova em que o crente é introduzido: «Ele salvou-nos, não por nenhuma obra justa que tenhamos 36 A Palavra de Deus NA VIDA QUOTIDIANA feito, mas pela sua misericórdia, com uma água que regenera e renova no Espírito Santo…» (Tt 3,5).

O Apóstolo dos gentios chama enfaticamente a seguir Cristo, Verbo de vida eterna, no Espírito: «Digo-vos, pois, caminhai segundo o Espírito e não sereis levados a satisfazer os desejos da carne. Porque a carne tem desejos contrários ao Espírito e o Espírito tem desejos contrários à carne; estas coisas são opostas umas às outras, de tal modo que não fazeis aquilo que quereis» (Gl 5,16s). Os frutos do Espírito são: «amor, alegria, paz, magnanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio; contra estas coisas não há Lei» (Gl 5,22s; cf. 2Cor 6,6; Ef 5,9; 1Tm 4,12). «Os que vivem segundo a carne tendem para o que é carnal; mas aqueles que vivem segundo o Espírito tendem para o que é espiritual. Ora, a carne tende para a morte, enquanto o Espírito tende para a vida e para a paz…. Mas vós não estais sob o domínio da carne, mas do Espírito, pois o Espírito de Deus habita em vós» (Rm 8,5.6.9).

É o Espírito que libertou o batizado da opressão do pecado e o motiva desde dentro: «E se o Espírito de Deus, que ressuscitou Jesus de entre os mortos, habita em vós, aquele que ressuscitou Cristo de entre os mortos também dará vida aos vossos corpos mortais através do seu Espírito que habita em vós» (Rm 8,11). Embora São Paulo, por vezes, se dirija aos batizados como «escravos da justiça» (Rm 6,18) ou mesmo «escravos de Deus» (Rm 6,22), fá-lo sempre em termos de analogia. O Espírito guia, nunca obriga ou força a uma determinada ação, pelo contrário, chama à livre determinação em todas as circunstâncias (cf. Rm 8,14). O Espírito Santo não é apenas um «mestre interior», mas sobretudo o princípio de uma vida propriamente divina em Cristo.

«Viver em Cristo, existir em Cristo» significa que a vida do discípulo emana da sua união com o Filho de Deus, como sua fonte, seu exemplo e seu autor.

(Dicastério para a evangelização)