É um método – com grande tradição na Igreja – que visa ajudar-nos a tomar contacto com a Palavra, abrindo-nos a toda a sua riqueza. Afirma-se que este estilo constitui uma espécie de «escada, para subir da terra ao céu». Na realidade, a lectio divina é apenas uma ferramenta oportuna, que facilita a leitura orante da Palavra. O seu objetivo é aproximar-nos de Deus, ou melhor, deixar que Ele chegue até nós e, com a sua Palavra, se torne Luz para os passos da nossa vida.

A lectio divina (leitura de Deus) é um método simples, segmentado em diversas etapas, que se transformam num verdadeiro itinerário. A tradição monástica chegou a distinguir oito ou dez percursos nesta via, que agora apresentamos de forma sintética, em cinco passos: leitura, meditação, oração, contemplação e ação.

Para iniciar a utilização deste método, torna-se imprescindível reservar, pelo menos uma vez por semana, um espaço de qualidade e de silêncio. É algo que não se pode fazer de forma apressada. Com tenacidade e pouco a pouco, aprenderemos a saborear a Palavra e a dedicar-lhe o tempo e a importância que merece. O que nos propomos levar a cabo, uma vez por semana, poderemos, com a prática, realizá-lo igualmente todos os dias da semana.

Eis uma pequena elucidação sobre os cinco passos, que constituem este método:

Consiste em ler e reler, de forma atenta e pausada, a Palavra de Deus, mesmo que nos pareça familiar, procurando compreender o que ela diz. Ao fazer esta leitura (lectio), vamos descobrir coisas novas, palavras que nos chamam a atenção, diversas ressonâncias… Haverá sempre algo de novo a ecoar, com mais intensidade dentro de nós.

No segundo passo, somos convidados a meditar e a refletir sobre a Palavra, procurando dar resposta à seguinte pergunta: o que é que este texto nos diz? Trata-se de tentar descobrir o que Deus pode estar a querer dizer-nos, no momento que estamos a viver. Dito de outro modo: a forma como a Palavra de Deus ilumina as nossas inquietações, problemas, buscas… ou ainda, qual é o sonho de Deus a nosso respeito.

Terceiro passo. Tendo intuído o que Deus quer de nós, podemos entrar em diálogo sincero com Aquele que nos ama, identificar e aceitar as nossas necessidades e desejos mais profundos. É hora de agradecer, pedir perdão ou ajuda… falar com Deus, com toda a confiança, abandonando-nos nas suas mãos e abrindo o nosso coração à sua presença, que gera vida.

Quarto passo. A contemplação não é uma técnica, é antes um dom do Espírito que brota da experiência da lectio bem feita: é um momento de intimidade, em que a ação pertence a Deus; é conhecer Deus com a experiência do coração, é olhar com admiração, em silêncio, o mistério de Deus-Pai, de Jesus-Amigo e do Espírito-Amor. A contemplação, como resultado da lectio divina, é a atitude de quem mergulha nos acontecimentos para descobrir e saborear neles a presença ativa e criativa da Palavra de Deus.

Por último, o que descobrimos ao ler, meditar, orar e contemplar, procuramos agora levá-lo para a vida concreta- Trata-se de converter em ação aquilo que antes havia sido contemplado. A relação profunda com Deus transporta-nos sempre para a realidade do quotidiano. Há sempre aspetos a alterar, a transformar; descobrimos que há muito a fazer por nós e pelos outros, para que a «vida alternativa» (o Reino), proposta por Deus, em Jesus Cristo, se torne cada vez mais presente no mundo atual.

Assim, antes de dar início à leitura, pedimos a Deus Pai o Espírito Santo para que possa guiar-nos na escuta, para que possamos reconhecer e acolher no texto que meditarmos Jesus, a Palavra que «veio na humildade da natureza humana», que «de novo há de vir, no esplendor da sua glória» e que vem agora, «para nos convidar a entrar em comunhão com Ele e com o Pai».

Deus da luz, envia sobre mim o teu Espírito Santo, para que, através da escuta das Escrituras, eu receba a tua Palavra, através da meditação, cresça em mim o conhecimento de ti e, através da oração, eu contemple o rosto amado do teu Filho Jesus Cristo, meu único Senhor. Ámen.

ENCONTROS

Ano Pastoral 2019/2020