InVocaMatosinhos

No dia 30 de junho, sexta-feira, pelas 21:30 horas, no Salão Paroquial de Leça do Balio, haverá mais um encontro vicarial “InVocaMatosinhos”. Será tratado o tema da “importância do Diaconado Permanente na vida das comunidades“.

Para aprofundar este tema, deixamos aqui um excerto da Conferência de D. Jorge Ortiga nas Jornadas de Teologia da UCP-Porto sobre o significado histórico e eclesial do Diaconado Permanente:

“O diaconado permanente investido da diaconia de Cristo, quer na qualidade de homens com uma vida profissional e familiar própria, quer na qualidade de casados, poderão ser uma presença luminosa e sacramental da Igreja no quotidiano e no limiar da vida humana. Há quem os apelide de “ministros da proximidade” porque apresentam “rosto próximo da Igreja” naqueles meios onde o sacerdote ou o bispo dificilmente conseguiriam chegar ou tocar. Os diáconos podem ajudar a viver e a reavivar a beleza do “cristianismo hospitaleiro e de amizade” (G. Vattimo) na concretização plena do Sacramento do Altar e no Sacramento do irmão.

Esta dimensão é sentida na atualidade onde se pretende um cristianismo mais afetivo. Aqui os diáconos podem proporcionar as necessárias condições para estar no mundo como missionários e de dar um contributo de humanidade aos sectores característicos da vida eclesial. «Os diáconos são capazes de tornar a vida da Igreja familiar a muita gente e, sobretudo, a experiência e o capital cultural não podem senão jorrar, com efeitos geralmente frutíferos sobre o ministério da Palavra, sobre a maneira de celebrar os batismos e os casamentos, sobre os processos de decisão no interior “das Igrejas”»16.

Algumas conclusões

1. Não podemos justificar a ministério do diaconado permanente em virtude da suplência do clero mas da missão diaconal da Igreja no mundo. Segundo D. J. L. Papin o diaconado permanentemente desapareceu “em parte, por se ter tornado naquilo que não era”. Por isso, e na esteira da teologia do Vaticano II, a centralidade deve ser colocada na comunidade onde predomina a diversidade e complementaridade de ministérios.

2. A comunidade eclesial é composta por uma diversidade de carismas e ministérios. De acordo com as suas funções, podemos catalogar em três as figuras do diaconado: “samaritanos” (voltados mais para as necessidades do próximo; “profetas” (mais sensíveis para as questões sociais e colectivas); “pastores” (ao serviço da animação pastoral e litúrgica das comunidades). O testemunho de vida e a coerência da sua existência serão importantes para a fecundidade do seu ministério, que exercem a partir das circunstanciais normais da vidas das pessoas. Esta diaconia de serviço supõe uma pleuriministerialidade que deve ser convenientemente pensada e corajosamente decidida. Se a Igreja em Portugal se encontra em atitude de discernimento para uma pastoral nova e fiel, ela tem o dever, por coerência doutrinal, de ser capaz de visibilizar o horizonte da missão de um modo diferente.

3) O instrumento de trabalho para a caminhada sinodal em curso aponta sinais de comunhão que não podem ser esquecidos. Trata-se de uma “nova maneira de ser Igreja” que surge enquadrada em três questões fundamentais e prioritárias para a acção pastoral. Numa Igreja Povo de Deus, o caminho da formação permanente é premissa para a inteligibilidade e vivência da fé. Caminho que exigirá um “empenho criativo, com um modo cristão e eclesial novo de estar e agir no mundo” , que supõe critérios de proximidade e inculturação da fé em todos os âmbitos, sobretudo nos lugares ditos de fronteira. Para a realização autêntica desta missão, o caminho sinodal sugere “a reorganização das comunidades cristãs, que passa pela descoberta de novas formas de exercício do ministério sacerdotal e implementação da diversidade de ministérios eclesiais”. Cuidar da comunidade e do anúncio do Reino exigirá diaconia e gratuidade. A prioridade está no acolhimento amoroso e no reconhecimento humilde de que é Deus quem conduz a história humana e nos envia a proclamar o mistério pascal de Jesus Cristo, Seu Filho e nosso Pai.

Proposta Pastoral

O significado histórico e eclesial do diaconado permanente revela-nos a emergência de colocarmos em funcionamento uma realidade interrompida. O novo modo de ser Igreja exige escuta da Palavra originante que chama crentes e não crentes a realizarem no hoje da história a narrativa amorosa de Deus com os homens. Todos estamos convocados, bispos, padre, diácono e leigos, a assumirmos a nossa condição de seguidores de Cristo-Servo e de abrimos as portas do Reino à humanidade inteira.

Termino esta minha reflexão, recordando o testemunho de Santo Inácio de Antioquia na sua Carta aos Efésios (1,175-177). O texto é demasiado conhecido e aplicado na sua origem ao presbitério. Reconheço-o como carta aplicável a toda a Igreja e demais ministérios: “O vosso memorável presbitério, digno de Deus, está em harmonia com o Bispo como as cordas de cítara. Esta vossa concórdia e harmonia na caridade é como um hino a Jesus Cristo.

Procurai todos vós tomar parte deste coro, harmonizados pela paz de Cristo, recebendo a melodia de Deus na unidade, possais cantar em uníssono por Jesus Cristo ao Pai, a fim de que vos escute e vos reconheça, pelas vossas boas obras, como membros do seu Filho, vale bem a pena viver em unidade irrepreensível, para poder participar sempre da vida de Deus.”

Penso poder dizer que o diaconado permanente terá futuro se a Igreja não se esquecer da sua fonte trinitária e se estiver à escuta da Palavra, para servir humildemente o Homem a encontrar sentido para a vida. Então o diaconado emergirá como discernimento aprofundado e renovado em atitude de missão nos âmbitos novos e característicos do tempo atual. Na linguagem de Santo Inácio isto exige e supõe:

– Fazer com que tudo parta do Bispo “como as cordas da citara”;

– Receber a melodia de Deus;

– Consciência de que fazemos parte do coro e que só a unidade e concórdia geram a harmonia;

– Tornar a caridade vivida e oferecido o verdadeiro hino a Cristo como o primeiro sentido da pastoral;

– De modo que Cristo nos reconheça pelas nossas boas obras. É Cristo e não os aplausos;

– Aí o mundo reconhecerá a diferença de vidas feitas diaconias e sentir-se-á interpelado a participar no “coro” duma sociedade imbuída pelo espírito de Cristo;

– “Vale bem a pena viver em unidade irrepreensível – dentro e fora da Igreja” para poder participar sempre na vida de Deus e fazer com que outros sintam o apelo do amor de Deus através da nossa Diaconia;

Servir o Evangelho da Esperança, a Boa Nova do Reino, é o desafio de todos cristãos e muito mais dos ministros ordenados. Não pertence aos diáconos presidir à comunidade eclesial e à Eucaristia, mas, em comunhão como o bispo e seu presbitério, é da sua responsabilidade e missão intrínseca trabalhar para a reunião eclesial em vias de realização, pela tripla diaconia inseparável da Palavra, da Liturgia e da Caridade.

Se bem entendido, e como participante do ministério apostólico pelo chamamento, pela consagração e pelo envio, o diaconado permanente permitirá aos pastores da Igreja, bispos e padres, realizarem melhor o ministério específico da presidência e do acolhimento, e possibilitará à Igreja ser sinal e testemunho da diaconia de Cristo-Servo.
A todos vós o meu obrigado profundo pela paciência com que me escutaste!

Universidade Católica, Porto, 14-02-11,
Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz