Iniciando-se com o Domingo que ocorre em 30 de Novembro ou mais perto desse dia, o Advento dura 4 semanas (que só são completas quando o Natal ocorre ao domingo, como neste ano de 2022). Outros Ritos, como o Ambrosiano e o Hispânico, têm um Advento com 6 domingos, uma quase «quaresma» de Inverno. Mas, como orientação global no Rito Romano, o Advento deixou de ser considerado tempo penitencial. Isto é claro na reforma litúrgica do Calendário, no qual se nota um compromisso entre duas perspetivas, histórica e escatológica:
«O tempo do Advento tem uma dupla característica: é tempo de preparação para a solenidade do Natal, em que se comemora a primeira vinda do Filho de Deus aos homens; simultaneamente é tempo em que, comemorando esta primeira vinda, o nosso espírito se dirige para a expectativa da segunda vinda de Cristo no fim dos tempos. Por estes dois motivos, o Advento apresenta-se como um tempo de piedosa e alegre expectativa» (Normas Gerais sobre o Ano Litúrgico…, 39)
A esta dupla característica correspondem duas partes bem diferenciadas:
– Até 16 de Dezembro predomina a dimensão escatológica. Exemplo típico é o Prefácio de Advento I: «Ele veio a primeira vez, na humildade da natureza humana, realizar o eterno desígnio do Vosso amor e abrir-nos o caminho da salvação; de novo há de vir, no esplendor da sua glória, para nos dar em plenitude os bens prometidos que, entretanto, vigilantes na fé, ousamos esperar» (Prefácio de Advento I: «As duas vindas de Cristo»). O prefácio de Advento I-A («Cristo, Senhor e juiz da história»), de origem italiana, sublinha igualmente a perspetiva escatológica alimentando a tensão entre o já da vinda de Cristo «em cada homem e em cada tempo» reclamando da nossa parte fé e amor, e o ainda não do Dia do Senhor que só o Pai conhece e do Reino glorioso, objeto da nossa esperança.
– A partir de 17 de Dezembro passa para 1º plano a preparação próxima do Natal. Significativamente, no dia 17 de Dezembro – como se então começasse o Ano litúrgico – lê‑se o início do Evangelho de S. Mateus. Exemplos típicos desta perspetiva são o Prefácio de Advento II e as Antífonas do Ó.
O Prefácio de Advento II, que canta «a dupla expectativa de Cristo», faz memória da preparação histórica, remota (os profetas) e próxima (a Virgem Mãe e João Batista), para a vinda do Salvador que agora «nos dá a graça de nos prepararmos com alegria para o mistério do Seu nascimento» que, assim entendido, é bem mais do que uma piedosa recordação do que aconteceu outrora. É esta atenção dada às celebrações natalícias que motiva o foco colocado em «Maria, nova Eva» (Prefácio de Advento II-A, igualmente de redação original italiana). Trata-se de uma temática já presente na Patrística do século II (São Justino e Santo Ireneu) que ajuda igualmente a viver o Natal não tanto como uma festa de calendário, meramente comemorativa, mas como um mistério de salvação, à imagem da Páscoa: «A graça que em Eva nos foi tirada, foi-nos restituída em Maria… Onde abundou a culpa, superabundou a misericórdia por Cristo, nosso Salvador».
Os textos da Liturgia das Horas que melhor traduzem o carácter contemplativo e poético da oração da Igreja, em tempo do Advento, encontram-se nas chamadas “antífonas do Ó”, que acompanham o Magnificat de Vésperas dos dias 17 a 23 de Dezembro. Chamam-se assim por iniciarem pela exclamação/vocativo Ó: «Ó Sabedoria do Altíssimo» (17), «Ó Chefe da Casa de Israel» (18), «Ó Rebento da Raiz de Jessé» (19), «Ó Chave da Casa de David» (20); «Ó Sol Nascente» (21); «Ó Rei da nações e Pedra angular da Igreja» (22); «Ó Emanuel» (23). Como Maria, a Igreja está grávida, prestes a dar à luz, e invoca nas ânsias do parto iminente»: «Vinde… ensinar-nos o caminho…, resgatar-nos…, libertar…, iluminar…, salvar…». No latim, a primeira letra da palavra que se segue ao “Ó” configura um acróstico cuja “chave” só é dada no último dia, dado que o acróstico se lê do fim para o princípio: ERO CRAS! É a resposta do Messias ansiado à súplica da Virgem e Mãe Igreja: Amanhã Estarei (aqui convosco)!
(SDL)